Resumos

Φυσις 

       

 

The Megalithic Equinox: Cândido Marciano da Silva

 

 

As opposed to the solstices, which are marked by very clear indications in the sky (provided by the standstills at the extremes of the Sunrise and Moonrise sweep of the horizon) the equinoxes are not marked by such a simple and direct observation methodology.

An indication of the equinox might have been derived by humans of the megalithic period, from the observation that, close to the solstices, the Full Moon and the Sun, rise in opposite extremes of the swing on the horizon. When the sun is close to the winter solstice the full moon rises close to the direction of the summer solstice sunrise, and vice versa. However, as the sunrise departs from the winter solstice moving north, the full moon rise moves south, until they cross close to the equinox. The possibility of this cross over awareness and of its observation was the basis of the “Spring Full Moon” concept of Megalithic Equinox discussed for southwest Iberia on data from M. Hoskin(1998).  The variability of the azimuth of the Spring Full Moon rise, i.e. of the first full-moonrise to pass over the sunrise, exhibits a bell shaped distribution centered about 9º south of true east. This has been found to be remarkably compatible with the orientation of the megalithic dolmens in this region, but it can also be observed in Hoskin(2001) data for other parts of the Mediterranean and Brittany. This analysis reinforced previous observations of astronomical directions between isolated megalithic monuments and conspicuous hills in the eastern horizon, of particular directions set by the stones in the internal architecture of some stone circles in this region, and by the fact that these stone enclosures are generally set on top of a hill on a slope facing east. Some of these astronomical directions are very accurate and could provide equinoctial markers within 0.5º.

Very early in the 1960’s Alexander Thom introduced the concept of the Megalithic Equinox. He supported it with data on particular solar orientations, with declinations close to zero, observed in some megalithic sites. Thom based this concept on the very simple technique of counting days and on the possible registration of those counts in the monuments or artifacts. Increased plausibility was derived from the fact that these data clustered around 0.5ºN from the East-West direction due to the fact that the earth’s orbit is not circular. Being slightly elliptical, the true equinoxes separate the orbit in two halves of unequal length. Therefore the division of the year in two halves with the same number of sunrises results in the indicated azimuth offset. This view highlights both the mid-swing ritual importance and the need to resort to a second order concept to materialize it. Nevertheless the lack of objective and consistent evidence on equinoctial markers has always raised rather critical discussions (Ruggles, 1997).

The major monument in southwest Iberia exhibiting these features is the Almendres enclosure near Évora, which is clearly oriented due east.

(Adapted from Journal of Cosmology, 2010, Vol 9, 2207-2216,  in  http://JournalofCosmology.com)

 

 

 

A Luz na vida e na morte das primeiras sociedades camponesas no Alentejo Central: Leonor Rocha

 

O Alentejo Central é detentor de um dos mais importantes conjuntos megalíticos a nível europeu. Esta importância decorre não só do elevado número de monumentos megalíticos conservados, mas também do numeroso e variado espólio progressivamente recolhido que nos permite compreender, em parte, a forma como viviam estas sociedades.

Os projetos de investigação realizados nas últimas décadas em torno de alguns núcleos megalíticos alentejanos permitiu, por um lado, proceder a uma revisão e medição da orientação geográfica das antas e, por outro, compreender melhor as suas diversas e originais manifestações que se encontram profundamente marcadas por um simbolismo associado aos astros. De fato, em termos gerais, existe algum consenso sobre o simbolismo existente em torno da escolha das orientações dos monumentos megalíticos (funerários e não funerários) marcadamente associados ao Sol e/ou à Lua, ou hipoteticamente, a outras constelações.

Nesta comunicação apontam-se e caracterizam-se sucintamente algumas destas orientações e as representações gráficas em espólios (cerâmicas, placas de xisto…) mais significativas e exemplificativas da importância da LUZ, na vida e nas crenças religiosas destas primeiras sociedades camponesas.

 

 

Fig. 1 – Representação solar. Taça. Anta Grande do Zambujeiro.

 

     A     B

Fig. 2. A – Nascer do Sol na Anta dos Olheiros 2 (Mora). B – Nascer da Lua no Menir da Meada.

 

 

 

Os menires do Concelho de Vila do Bispo e da área interfluvial de Bensafrim-Odiáxere: Ricardo Soares e Fernando Pimenta

 

Os menires do Concelho de Vila do Bispo e da área interfluvial de Bensafrim-Odiáxere encontram-se localizados numa região onde a ocupação atribuível ao Neolítico antigo evidencia algumas características que a diferenciam de outros contextos meníricos, nomeadamente presentes no vizinho Alentejo Central.

Também os dados arqueológicos existentes parecem apontar para lógicas diferentes entre o concelho de Vila do Bispo, com povoados neolíticos aparentemente periféricos relativamente aos menires, e o interfluvial Bensafrim-Odiáxere, onde os menires se situam aparentemente em torno de povoados.

Por outro lado, ainda não são conhecidos rituais funerários relacionáveis, eventualmente latentes em contextos de gruta.

Ainda que muito fragmentários e descontextualizados, no concelho de Vila do Bispo, numa área de pouco mais de 42 km2, sobreviveram até hoje cerca de 250 menires. Trata-se de uma amostra significativa, de grande consistência material, morfológica e decorativa. Porém, o facto de grande parte destes menires se encontrarem derrubados, fragmentados e deslocados do local original de implantação condiciona bastante o seu estudo.

No âmbito do projeto de investigação – ArqueoAstronomia Paisagística no Megalitismo Menírico de Vila do Bispo vs interfluvial Bensafrim-Odiáxere – foi aplicada uma metodologia de análise estatística e geográfica da implantação, distribuição e orientação global na paisagem sobre a atual localização dos menires. A metodologia aplicada divide-se em três blocos de estudo aplicados às áreas de Vila do Bispo, do interfluvial Bensafrim-Odiáxere e a conjuntos de pontos aleatórios obtidos nas regiões em causa:

  • Padrão espacial de ocupação do território;
  • Análise topográfica local: elevação, declive e azimute de declive máximo;
  • Análise topográfica do horizonte: direcção para o pico distante mais elevado, perfil da distância ao horizonte em função do azimute e possíveis marcas no horizonte em função da declinação.

Apesar das limitações com que este estudo foi desenvolvido, nomeadamente a utilização de um modelo digital de terreno com uma quadrícula de 90 x 90 metros, algumas localizações imprecisas e vários dados incompletos, os resultados revelaram padrões semelhantes entre as áreas de Vila do Bispo e do interfluvial Bensafrim-Odiáxere que justificam uma clara intencionalidade na seleção dos locais onde os menires foram implantados, parecendo indiciar uma associação simbólica de grande parte dos menires com as Luas Cheias Equinociais e levantando a possibilidade de uma diferenciação entre a Lua Cheia da Primavera e a Lua Cheia de Outono associada a diferentes tipologias de gravuras: elipses longitudinais, por um lado e “glandes fálicas” e ondulados, por outro.

 

 

A cidade dos mortos: o cemitério como espelho da comunidade que o produz - António Matias Coelho

 

 

Quem faz os cemitérios não são os mortos. São os vivos. E fazem-nos não apenas para os mortos, mas também (para não dizermos sobretudo) para os vivos. Por isso, a organização da cidade dos mortos – com as suas avenidas, os diferentes tipos de habitações que contém, a forma de as embelezar, as suas relações de vizinhança, a hierarquização dos seus espaços – obedece a critérios semelhantes aos da cidade dos vivos.

Assim, os cemitérios funcionam como espelhos das aldeias, vilas ou cidades que os produzem. O conhecimento de uma qualquer comunidade ficará sempre incompleto se não incluir o seu cemitério.

Por outro lado, o cemitério é, em si mesmo, um museu: é um campo de memórias e de homenagens que oferece uma imensidão de elementos de trabalho e um repositório de peças de arte de diferentes épocas que são sinais mais duradouros de atitudes e de relações efemeramente existentes no mundo dos vivos.

Apesar do caminho já percorrido – os primeiros passos foram dados na Chamusca, há mais de 20 anos, com a realização dos dois Encontros sobre as Atitudes perante a Morte, em 1989 e 1991, pioneiros no tratamento desta temática em Portugal –, a morte tem sido e continua a ser tabu na nossa cultura. Mas nem sempre foi tanto assim.

No Antigo Regime – o longo período da História da Europa ocidental que antecedeu a Revolução Francesa e as revoluções liberais que ela inspirou –, ou seja, até há apenas dois séculos, os mortos eram sepultados nas igrejas (os principais) ou no adro delas (o povo comum). Numa sociedade rigidamente hierarquizada e profundamente religiosa, em que a vida era encarada como uma caminhada para se merecer o Céu e o que contava não era tanto o indivíduo mas o coletivo, o Povo de Deus, a morte era entendida em geral como uma libertação: preparava-se, morria-se em casa, em família e depois enterrava-se o morto junto dos demais, muitas vezes em vala comum, sem honras nem epitáfios, ao pé da igreja. De modo que vivos e mortos comungavam o mesmo espaço e os vivos passavam pelo meio dos seus mortos cada vez que iam à missa.

O triunfo da burguesia e das ideias liberais veio criar uma sociedade nova, fundada nos valores iluministas da liberdade, da igualdade e da fraternidade que privilegia o indivíduo, o trabalho, a razão e a ciência e progressivamente se seculariza e se afasta de Deus e da Igreja. É esta sociedade, construída a partir dos finais do século XVIII e princípios do século XIX – a sociedade em que vivemos nós hoje – que impõe a criação dos cemitérios civis, fora das povoações, murados com altos muros e que reservam um espaço para cada morto, segundo a lógica Um homem, um voto / Um homem, uma campa. E um nome. E um epitáfio. E depois uma fotografia. E o muito mais que podemos descobrir nos nossos cemitérios.

Não foi a morte que mudou. Foi a vida. E a criação dos cemitérios contemporâneos, ou seja, a criação da cidade dos mortos, separada do mundo dos vivos, não representa apenas uma simples mudança de lugar de enterramento: significa sobretudo uma profunda alteração de paradigma da nossa existência na Terra.

 

 

 

Ciência versus religião: Antagonismo ou Paralelismo?: Jacinto Rolha Castanho

 

Interpretações especializadas da relação entre ciência e religião têm sofrido transformação nas últimas décadas. O velho modelo do conflito inevitável tem sido reestruturado. As relações entre ciência e religião têm-se pautado por 4 categorias: conflito, independência, diálogo e integração. A diversidade de posições teológicas oferecidas por estudiosos religiosos tornam claro que não podemos pensar em “religião” como categoria única, mesmo em breves períodos de tempo, posição que não é comum a todos os autores. Também o termo “ciência” tem sido entendido de diferentes modos. O próprio envolvimento dos protagonistas no debate tem que ser avaliado. Serão aqui analisadas algumas posições influentes no relacionamento da ciência e religião desde o período do pós-copernicianismo, no entanto é crível que no período antecedente e mesmo depois, pelo facto do ensino da ciência na Europa ser em grande parte da responsabilidade dos Jesuítas, esta influência tenha sido mais marcante. Na atualidade o tema continua a ser motivo de discussão e reflexão, nomeadamente ao nível da cosmologia.

 

 

 

Vida e Morte, na Terra e no Céu: Máximo Ferreira

 

Ao longo de milénios, o Homem foi, pouco a pouco, diferenciando os fenómenos meteorológicos dos acontecimentos celestes e adquirindo noções de ordem e de determinismo. No entanto, “estava reservado ao génio do povo grego instaurar, a partir do séc.VI antes da nossa era […], um racionalismo científico […]. Este racionalismo consistiu em retirar o sobrenatural, a magia e o misticismo das tentativas de interpretação de fenómenos naturais e, em particular, dos fenómenos celestes. As necessidades místicas subsistiriam, mas num domínio à parte, deixando, a partir de então, a ciência relativamente autónoma”[1].

O primeiro grande progresso da Astronomia foi o reconhecimento da Terra como um corpo celeste isolado no espaço, situado no centro de uma esfera completa, com todos os pontos à mesma distância da posição central. No séc. II da nossa era, Cláudio Ptolomeu recolhe ideias e conhecimentos dos seus predecessores e estabelece a mais avançada interpretação de um mundo geocêntrico, com explicações dos movimentos anómalos dos “astros errantes”, das fases da Lua, dos eclipses e da precessão dos equinócios. A Astronomia constitui-se, assim, um verdadeiro progresso do espírito, assinalado pela beleza de soluções geométricas e pela conquista de conhecimentos precisos sobre a forma da Terra e sobre os ritmos do céu.

Após o longo período da Idade Média, a Renascença marca o regresso ao contacto com a cultura grega e ao apreço pela liberdade intelectual. Copérnico (1473-1543) retoma as conclusões de Ptolomeu e concebe um sistema do mundo mais simples, bastando para isso colocar o Sol, e não a Terra, no seu centro; Kepler (1571-1630) estabelece as leis que regem o comportamento dinâmico dos planetas em volta do Sol; Galileu (1564-1643) obtém provas concludentes para a afirmação da teoria de Copérnico - sugerindo mesmo a não existência de uma “esfera celeste” e que as estrelas seriam milhões de sóis dispersos pelas profundezas do espaço - e Newton (1643-1727) deduz – das leis empíricas de Kepler – a lei da gravitação universal, com a qual explica as órbitas dos planetas e a razão por que não caiem no Sol, as trajetórias dos cometas e as marés. Lei que governaria a terra e o céu!

A partir de então, o Homem deixava definitivamente o centro do Mundo, tomando consciência de habitar um simples planeta que, tal como todos os outros, vagueava pelo espaço em volta de uma estrela de cuja gravidade se encontrava prisioneiro.

A construção de telescópios que permitissem ver mais longe levaria à descoberta de objectos celestes que a vista humana não alcançava, o que justificava admitir a ideia de que o Mundo seria muito mais vasto do que o suposto e que se poderia estender muito para além da mais prodigiosa imaginação.

A observação da Via Láctea – a que foi dado o nome de Galáxia - sugere um anel de estrelas que, em 1750, Thomas Wright (1711-1786) admite tratar-se de uma ilusão, propondo a hipótese de se tratar de um disco imenso povoado de estrelas, onde o Sol e todas as estrelas visíveis se encontram mergulhadas. William Hershel (1738-1822) utiliza telescópios de maior potência e mais perfeitos, com os quais descobre muitas nebulosas, admitindo que algumas delas possam ser exteriores à Galáxia, encontrando assim concordância com a convicção do filósofo Immanuel Kant (1724-1804) para quem o Universo poderia ser povoado por “ilhas de matéria”.

Desenvolvem-se métodos para determinar distâncias às estrelas e, na segunda década do século XX, Edwin Hubble (1889-1953) descobre a existência de galáxias. Depois de afastado do centro do Sistema Solar e, depois, colocado num dos braços da Galáxia, o Homem conhecia agora uma nova posição, algures no Universo, girando sobre si próprio, em redor de uma estrela modesta que, por sua vez, orbita em torno de uma galáxia que, como milhões de outras, vagueia pelos espaços siderais impelida pelo efeito do Big Bang que gerou a formação e expansão do Universo.

Nas nossas proximidades, estrelas nascem e morrem, numa reciclagem permanente de substâncias formadas a partir dos mesmos elementos que constituem tudo o que existe (solos, atmosferas, plantas, animais,…) e proporcionam a vida na Terra e, certamente, em muitos outros locais do Cosmos.

 

 

[1] – Paul Couderc, Histoire de L’Astronomie. Presses Universitaires de France, 1966.